Eu sumi. E, mesmo cheia de coisas pra dizer, hoje só consigo falar desse vazio
Falta um pedaço de mim mesma e eu não sei onde procurar.
Sumi. E poderia começar esse texto com um resumo dos últimos dias, semanas ou meses. Poderia listar as mudanças, as decisões, os ciclos que se encerraram. Eu poderia, e pretendo fazer isso em algum momento. Porque tem muita coisa guardada aqui dentro. Muita coisa foi virando palavra aos poucos, na cabeça, no bloco de notas, nos desabafos que nunca foram. Mas hoje não é sobre isso. Hoje, é sobre esse sentimento esquisito e silencioso de ser adulta e, mesmo assim, se sentir completamente sozinha dentro de si.
Tem dias em que parece que eu vivo. Trabalho, respondo mensagens, entrego, participo das conversas. Mas aí vem a noite, ou às vezes vem no meio da tarde, e bate esse vazio que ninguém vê. Um espaço oco entre o que eu sou por fora e o que eu sinto por dentro. Uma falta de brilho, de vontade, de ânimo, de tesão pela vida. Como se tudo tivesse perdido a cor, e eu estivesse tentando pintar um arco-íris com tons de cinza.
Ser adulta é ter boletos, é tomar decisões importantes, é ser responsável. Mas ninguém me contou que também seria carregar esse cansaço existencial de fingir estar tudo bem enquanto se sente desconectada de tudo. Não é solidão por falta de pessoas.
É uma solidão interna, dessas que a gente sente mesmo rodeada de gente. Como se tivesse faltando um pedaço de mim mesma e eu não soubesse onde procurar.
E dói. Porque às vezes, no meio da rotina, eu lembro da pessoa que fui antes de tudo (ou que eu acho que fui). A que sonhava mais alto, que acreditava mais, que se entusiasmava com coisas pequenas. A que não tinha medo de errar tanto, a que não se cobrava o tempo inteiro, a que não vivia tão exausta por dentro. Tenho saudade dela, mesmo sem saber direito quando foi que ela parou de aparecer.
Tem dias em que eu penso em escrever tudo o que aconteceu nesse tempo fora do radar. Em dividir as reflexões que fiz, os incômodos que me empurraram pra frente, os aprendizados que doeram. Mas aí eu paro, olho pra tela e tudo o que sinto é esse cansaço mudo. Como se as palavras estivessem aqui, mas faltasse força pra colocá-las no mundo.
É difícil admitir, mas a verdade é que às vezes a vida perde o gosto. Acordar já não empolga. Fazer o básico parece demais. E nem sempre dá pra explicar isso sem parecer preguiça ou drama. Mas é real. Tem dias em que simplesmente não dá vontade de ser. De existir com tudo que isso carrega. De estar presente no próprio corpo. De fingir disposição.
E o pior é que ninguém vê. Porque eu aprendi a sorrir no automático, a dar conta das coisas, a me virar. Mas tem uma parte minha que grita calada. Que pede pausa, que implora por sentido, que só queria se sentir viva de verdade. E é por isso que eu sumi. Porque precisava me escutar sem interferência. Mesmo que o silêncio também doesse.

Hoje, escrever isso é como respirar um pouco melhor. Ainda não sei se é um recomeço, mas talvez seja um lembrete: estou tentando. Tentando achar beleza no meio do cansaço. Tentando voltar a sentir vontade. Tentando fazer as pazes com essa versão adulta que me habita, mas que ainda se sente perdida.
Se você também sente esse vazio e não sabe de onde vem, saiba que não está só. Às vezes, só o fato de nomear o que sentimos já ajuda a aliviar o peso. Talvez a gente só precise admitir, de vez em quando, que ser adulto também é se sentir sozinho, mesmo quando tudo parece estar em ordem. E que tudo bem parar. Sumir. Silenciar. Desde que, em algum momento, a gente se escute de novo. Porque no fundo, tudo que a gente quer é isso: se reencontrar. E sentir, nem que seja só um pouco, que vale a pena continuar.
As expectativas de vida e sonhos que temos, principalmente na adolescência, se esvaem após descobrirmos que somos mais um no mundo, importante apenas para nossos pais que, assim como nós, navegam em mares que não podem controlar na vida adulta.
O que dá pra fazer é não desistir de nada; lutar pelo impossível, porque da inação nada vêm, mas é da ação que alcançamos resultados - ou ressignificamos propósitos.
Aja. Nem que seja escrevendo, como fez aqui!
Parabéns pelo texto! Veio da alma!
Abs
Suas palavras me atravessaram de forma significativa. Deu aquela sensação de “nossa, você também sente isso?” No fim, nunca estamos tão sozinhos assim. Tem sempre alguém que irá dizer: “eu também”. Mas, em meio aos desafios e dores de existir, nos esquecemos disso. Um abraço com carinho 💜